sábado, 11 de dezembro de 2010

# Relembre: Claudia Raia se diz plena com gravidez e papel em O Beijo.




Claudia interpreta Mina em
O Beijo. (Foto: Luiza
Dantas/Carta Z Notícias)

Cláudia Raia não acredita que possa encarar qualquer personagem. A contar seus papéis na tevê, porém, parece que ela tem uma galeria ilimitada de tipos. Já encarnou, por exemplo, a "sapata" Tonhão do humorístico TV Pirata, a tentadora Engraçadinha da minissérie Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados, baseada na obra de Nélson Rodrigues, a escandalosa Tancinha, deSassaricando, e a gelada Ângela, deTorre de Babel, duas novelas de Sílvio de Abreu.
A convite do mesmo autor, a atriz pensou ter extrapolado com a transexual Ramona de As Filhas da Mãe. Mas a vampirona Mina, de O Beijo do Vampiro, rompeu a fronteira da mortalidade e foi ainda mais longe. "Ela pode tudo. E eu gasto horas de produção: uso aplique, lente, prótese, viro uma velha encarquilhada e até morcego", diverte-se, referindo-se às mutações que sofre na novela de Antônio Calmon.
De fato, Mina tem muitos poderes e pertence a uma casta superior de "sanguessugas". Mas sofre porque é estéril e não pode dar um filho a Bóris, o vampiro-mor vivido por Tarcísio Meira. Como o marido tratou de providenciar o sucessor com outra, ela está decidida a travar uma batalha sobrenatural com o predestinado. No caso o Zeca, de Kayky Britto - que, ao completar 13 anos, será mais poderoso que o pai. "A história tem drama, humor, realismo, ficção... É para todos os gostos", valoriza.
Cláudia faz o papel destinado, inicialmente, à atriz Christiane Torloni, que optou em protagonizar a próxima novela das oito, de Manoel Carlos. "Fico honrada porque a Christiane é bárbara. Mas o Calmon disse que a Mina era a minha cara e fez questão de me ter na novela", despacha.
De fato, o autor terá de mudar a história em função da atriz. Afinal, Mina é infértil - e Cláudia está grávida de cinco meses. Antes de aceitar o convite, a atriz avisou que ela e o ator Edson Celulari pretendiam encomendar um irmãozinho para Enzo, de cinco anos - e, talvez, ele já estivesse a caminho. "O Calmon garantiu que, assim, a trama ficaria ainda melhor", conta Cláudia, que espera uma menina. Já a vampira pós-moderna vai se submeter a uma inseminação artificial.


Leia a entrevista com a atriz:

Você havia destinado este ano para tirar férias de novela, montar uma peça e ter mais um filho. Por que mudou de idéia?

Claudia Raia (CR) - Simplesmente não deu para resistir à Mina. Ela é engraçada, poderosa, louca, má, profundamente sensual... Estou amando fazer esta personagem. Só de ler o roteiro eu dou risada. É o tipo de humor que eu gosto e sei fazer. Mas em nenhum momento pensei em abrir mão de engravidar nem de esconder minha barriga. Era minha condição para estar na novela.

A Mina é estéril e este é um ponto-chave da trama. Mas o autor de O Beijo do Vampiro, Antônio Calmon, aceitou mudar os rumos da personagem para que você pudesse interpretá-la grávida...

CR - E fiquei muito feliz por isso. Quando o (diretor) Marcos Paulo me chamou, eu disse que tinha o projeto de engravidar esse ano - e talvez o nenê já estivesse até a caminho. Ele avisou ao Calmon, que pediu um tempo para pensar. Duas horas depois, ele ligou e disse que me queria de qualquer jeito. Que mudava até a história porque eu era a cara do papel. Não tive nenhum sintoma e comecei a gravar sem saber que estava grávida. Assim que descobri, falei com o Calmon. Ele me garantiu que a história vai ficar ainda melhor com uma vampira barriguda!

O papel estava previsto inicialmente para ser da Christiane Torloni, que preferiu esperar pela protagonista da próxima novela de Manoel Carlos...

CR - Quando o papel vem para você, é seu. Não era para ser de mais ninguém. A Christiane fez uma escolha e a direção resolveu me chamar. O lugar ainda não estava ocupado. Tinha uma escalação apenas. Para mim é uma honra porque a Christiane é uma ótima atriz. Também acho que Mina é um papel maravilhoso. Eu sei desenvolver esse tipo de humor porque já estou acostumada com ele.


E como você define o humor da novela?

CR - É dosado com ironia nos diálogos, um toque de maldade... O Calmon está inspiradíssimo! E eu só consigo ser engraçada quando também acho graça. A Mina tem tiradas inacreditáveis e brinca o tempo todo com seus poderes de vampira. E como é de uma casta superior, ela faz o que quer com as pessoas: manipula, transforma, chupa, mata... Mas não tem sangue. É tudo bem "clean". Afinal, estamos numa novela das sete!


Os vampiros já foram tema de inúmeros filmes e produções de tevê. Que perfil você traça deles nesta novela?

CR - Os vampiros do Calmon são traiçoeiros. Nenhum vampiro presta porque a maldade é da natureza deles... Mas, na verdade, os vilões são os humanos. Os vampiros da novela têm um lado lúdico, gozado, tomam sangue de garrafinha... Eles têm uma ética própria. Não mordem crianças nem velhinhos! Não é maravilhoso? Está tudo mesclado: o drama, o realismo com a ficção, os vampiros... É uma novela para todos os gostos. E é bastante diferente em termos de linguagem.

Então você não vê qualquer semelhança com Vamp?

CR - Fora o fato de ser uma novela com vampiros, não. Vamp foi tão diferente que a gente nem tem como imitar. Além disso, o Calmon é muito inspirado. Encontrou artifícios maravilhosos para O Beijo...". É outra novela.

E quanto à Mina? Quais foram os artifícios que você encontrou para compor a personagem?

CR - Não busquei nada específico em livros ou filmes porque a gente quis criar um tipo que fugisse de tudo que já se viu. A maquiagem é diferente, com um toque só dela. A Mina tem um figurino ousado, que não segue um único estilo. Vai do chinês ao nórdico, sempre em tons escuros. E quando ela fica brava e se transforma em morcego? Os dentes crescem, os olhos ficam amarelos, o cabelo vira uma juba laranja... Como se ela estivesse toda arrepiada. É uma loucura! Eu compus a personagem a partir desses elementos. O mais difícil é que preciso ficar sempre atenta à continuidade. A gravação é interrompida até quatro vezes para mudanças. Botar aplique, lentes de contato, caninos... Realmente, é uma novela trabalhosa de fazer.

E para encarnar a vampira envelhecida, com quase 200 anos?

Nossa, isso dá ainda mais trabalho... Eu uso uma prótese de latex no rosto e várias nas mãos para dar aquele aspecto todo enrugado. O processo é cruel! Leva três horas para ficar pronto. Depois, eu não posso comer. Só tomar líquido de canudinho. Respiro e falo com dificuldade. Mas isso é até bom porque me ajuda a compor. Já cheguei a ficar oito horas com a prótese. É um suplício porque ela é quente e o verniz assa toda a pele. Mas o resultado é maravilhoso. Compensa o sacrifício.


Muita gente tem medo de se envolver com temas "negativos" como vampiros...

CR - Isso é bobagem! Mas, se eles existem, espero que fiquem bem longe da gente! A novela é uma brincadeira, uma ficção. Acredito em todas as energias e acho que nós estamos cobertos de vibrações boas para fazer esse trabalho. A verdade é que as obras realistas, em geral, são muito mais pesadas que uma comédia sobre vampiros.

Nélson Rodrigues, por exemplo, tem obras mais densas - e você está na reprise de Engraçadinha. Como é rever esse trabalho?

CR - Agora, uma delícia! Mas foi, talvez, o papel mais difícil que já fiz. Foi também uma personagem que eu lutei muito para fazer. Ninguém acreditava que eu pudesse ser também uma atriz dramática. Diziam que era glamourosa demais e nunca seria uma mulher "rodrigueana" - daquela que a gente encontra na rua. Mas eu sabia que podia fazer. Eu e a diretora Denise Saraceni.

Então, o ator sabe quando é capaz...

CR - Precisa saber. Mas também é preciso ter bom senso. Não tem essa história de que a Cláudia Raia pode fazer tudo, que está acima do Bem e do Mal. Às vezes, a gente erra também. Tem o talento e o tipo físico para fazer. Só que chega na hora e não consegue uma integração com o personagem - ou consegue, mas o público não quer ver aquilo naquele momento. É tão engraçado... São muitos os fatores que têm de dar certo para se obter um resultado pleno.

E a ponta da história é a audiência...

CR - Exatamente. Às vezes, o público não quer ou não está preparado para ver aquela história - e o produto é bom. É muito esquisito... E está ficando cada vez mais. O telespectador está menos óbvio. Ninguém sabe mais ao certo o que é preciso para ter uma bom produto e uma boa audiência ao mesmo tempo. Fazer o que o público quer ver, sem ligar para qualidade, isso é fácil. Mas um bom produto, bem realizado e popular, é o mais difícil. Eu acho que O Beijo do Vampiro tem essa característica.

Seu último trabalho na tevê viveu uma transexual, em "As Filhas da Mãe". Agora, você interpreta uma vampira... E, depois, o que virá?

CR - Bom, o Marcos Paulo (diretor) já me disse para ir me preparando... Depois dessa, pode ser qualquer coisa. Um homem, um macaco, um extra-terrestre... Acho que um E.T. seria o máximo!

Voto de silêncio

Cláudia Raia não se nega a falar sobre as eleições para presidente. Mas também não esconde que este é um assunto particularmente delicado para uma entrevista. Tamanha reserva é fruto da experiência malsucedida com a sucessão presidencial de 89, quando a atriz apoiou publicamente Fernando Collor de Mello.
Na ocasião, ela apareceu ao lado do candidato em eventos de campanha e no Horário Eleitoral Gratuito. Depois de eleito, a atriz chegou a prestigiá-lo em Brasília. Até apareceram as primeiras denúncias de corrupção, que culminaram com as ameaças de impeachment e a renúncia do presidente. "Mesmo estando mais perto dos acontecimentos, não consegui enxergar o que havia por trás. Eu me equivoquei, como a maioria da população", admite.
Além da decepção pessoal, Cláudia engoliu duras críticas e amargou um inevitável sentimento de culpa por ter, como figura pública, influenciado muitos eleitores na decisão. "As pessoas vão atrás do que o artista fala. Este é um poder tremendo, que deve ser usado com extrema cautela. Minha agravante foi a responsabilidade de ter mudado, talvez, milhares de cabeças", analisa a atriz - atualmente, uma defensora da máxima de que arte e política não se misturam.
Por isso, tudo o que Cláudia Raia quer nestas eleições é ser uma cidadã comum. Assim como nas campanhas de 94 e 98, ela decidiu manter o voto em segredo. Adianta apenas que vem pesando prós e contras de cada candidato e não encontrou nenhum "salvador da pátria". Mas não acredita que a discrição tenha de ser, necessariamente, a conduta de todo artista. "Se existe, realmente, convicção ideológica, o artista deve pesar se vale a pena defendê-las em público. Só que eu não gostaria de me expor outra vez daquela maneira", esquiva-se.

Tudo por um papel

Nos primeiros dez anos de carreira na tevê, Cláudia Raia se dedicou exclusivamente a tipos cômicos. Primeiro, no extinto programa Viva o Gordo, com Jô Soares, no início dos anos 80. Depois, numa série de personagens engraçadas em novelas e programas de humor.
Com este currículo, a atriz estava previamente descartada para viver a personagem-título de Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados, minissérie de 95, baseada na obra de Nélson Rodrigues - que vem sendo reprisada na Globo.
Apesar do nome sugestivo, a Engraçadinha da segunda fase da história deveria ser uma mulher séria e reprimida. E, de fato, a espalhafatosa Cláudia Raia passava longe desse perfil. "A direção da emissora dizia que eu não era uma figura rodrigueana. Na cabeça deles, ninguém podia encontrar uma Cláudia Raia na rua", conta, do alto de seus 1,80 m bem distribuídos.
A atriz foi convidada inicialmente para uma participação de três capítulos, mas não tirou da cabeça que era capaz de encarnar Engraçadinha. Com o apoio da diretora Denise Saraceni, fez um teste às escondidas na Globo. "Eles nem queriam que eu fizesse teste. Por isso, eu e a Denise entramos à meia-noite na emissora e gravamos sem ninguém saber", revela.
Segundo Cláudia, o diretor de núcleo Carlos Manga viu o teste e se ajoelhou em frente ao aparelho de tevê, abismado. Depois, saiu correndo pelo corredor, aos gritos: "Gente, a Cláudia Raia é a Engraçadinha!", lembra a atriz, aos risos. 

Fonte: Terra.

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