sábado, 12 de novembro de 2011

# Claudia Raia estrela montagem de "Cabaret", de Joe Masteroff.


"Havia um cabaré, e havia um mestre-de-cerimônias e uma cidade chamada Berlim. Era o fim do mundo, e eu dançava com Sally Bowles, e nós dois estávamos dormindo."
São essas as primeiras palavras do livro que o personagem Cliff Bradshaw escreve na peça "Cabaret". A montagem musical do texto chega a São Paulo hoje, no teatro Procópio Ferreira.
O espetáculo que os brasileiros verão é resultado de uma sequência de adaptações. A peça foi escrita em 1966 por Joe Masteroff, a partir do livro "I Am a Camera", de John van Druten -o qual, por sua vez, baseou-se em "The Berlin Stories" (1945), de Christopher Isherwood.
Zé Carlos Barretta/Folhapress
Claudia Raia em cena do musical "Cabaret", dirigido por José Possi Neto
Claudia Raia em cena do musical "Cabaret", dirigido por José Possi Neto
Masteroff serviu na Força Aérea Americana durante a Segunda Guerra Mundial e hoje, aos 91 anos, segue escrevendo, ofício que adotou na década de 1950.
Ele aponta a insensatez do mundo como razão para "Cabaret" manter a atualidade e o apelo universal. "As pessoas precisam de música para sobreviver, porque a loucura ainda está em todo lugar."
O autor se define como um sujeito "tranquilo", alguém cuja vida "nunca foi um cabaré". Mas acha que a falta de juízo dos tempos atuais faz surgir tipos cada vez mais parecidos com os de sua peça, "sem esperança e aproveitando o máximo".
A história de "Cabaret" se passa num clube noturno da Berlim pré-ascensão do nazismo, período em que muitos alemães ainda não atinavam para o perigo iminente que o mundo corria. A situação financeira ruim e o moral baixo depois da derrota alemã na Primeira Guerra definiam o clima da época.
Os clubes burlescos, com seu cardápio de números alegres e escapistas estrelados por garotas seminuas, serviam de alento.
Miguel Falabella, responsável pela adaptação para o português e amante dos musicais, diz que teve trabalho para não perder a atmosfera histórica e política da peça.
Para isso, manteve do original o Mestre de Cerimônias, personagem palpitador de Jarbas Homem de Melo.
"A personalidade ácida do Mestre de Cerimônias -que comenta a história com traços de crueldade- é muito importante", explica Falabella. "Ele representa aquela Alemanha que está afundando, prestes a ver os nazistas no poder. O ovo da serpente está eclodindo, e ele é a tradução disso tudo."
O romance entre Sally Bowles e Cliff Bradshaw (papel proposto a Reinaldo Gianecchini antes da descoberta da doença) acontece e parece ser uma tábua de salvação para o par de desgarrados.
Porém, a presença crescente do nazismo, o temperamento de Cliff e a ignorância de Sally impedem um final feliz. "E como poderia haver se o que estavam vendo era o começo do 'fim do mundo?'", questiona Masteroff.

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