"Havia um cabaré, e havia um mestre-de-cerimônias e uma cidade chamada Berlim. Era o fim do mundo, e eu dançava com Sally Bowles, e nós dois estávamos dormindo."
São essas as primeiras palavras do livro que o personagem Cliff Bradshaw escreve na peça "Cabaret". A montagem musical do texto chega a São Paulo hoje, no teatro Procópio Ferreira.
O espetáculo que os brasileiros verão é resultado de uma sequência de adaptações. A peça foi escrita em 1966 por Joe Masteroff, a partir do livro "I Am a Camera", de John van Druten -o qual, por sua vez, baseou-se em "The Berlin Stories" (1945), de Christopher Isherwood.
Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
Claudia Raia em cena do musical "Cabaret", dirigido por José Possi Neto |
Ele aponta a insensatez do mundo como razão para "Cabaret" manter a atualidade e o apelo universal. "As pessoas precisam de música para sobreviver, porque a loucura ainda está em todo lugar."
O autor se define como um sujeito "tranquilo", alguém cuja vida "nunca foi um cabaré". Mas acha que a falta de juízo dos tempos atuais faz surgir tipos cada vez mais parecidos com os de sua peça, "sem esperança e aproveitando o máximo".
A história de "Cabaret" se passa num clube noturno da Berlim pré-ascensão do nazismo, período em que muitos alemães ainda não atinavam para o perigo iminente que o mundo corria. A situação financeira ruim e o moral baixo depois da derrota alemã na Primeira Guerra definiam o clima da época.
Os clubes burlescos, com seu cardápio de números alegres e escapistas estrelados por garotas seminuas, serviam de alento.
Miguel Falabella, responsável pela adaptação para o português e amante dos musicais, diz que teve trabalho para não perder a atmosfera histórica e política da peça.
Para isso, manteve do original o Mestre de Cerimônias, personagem palpitador de Jarbas Homem de Melo.
"A personalidade ácida do Mestre de Cerimônias -que comenta a história com traços de crueldade- é muito importante", explica Falabella. "Ele representa aquela Alemanha que está afundando, prestes a ver os nazistas no poder. O ovo da serpente está eclodindo, e ele é a tradução disso tudo."
O romance entre Sally Bowles e Cliff Bradshaw (papel proposto a Reinaldo Gianecchini antes da descoberta da doença) acontece e parece ser uma tábua de salvação para o par de desgarrados.
Porém, a presença crescente do nazismo, o temperamento de Cliff e a ignorância de Sally impedem um final feliz. "E como poderia haver se o que estavam vendo era o começo do 'fim do mundo?'", questiona Masteroff.
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